sábado, 8 de fevereiro de 2014

Aforismos antigos, provérbios e conselhos para manutenção da saúde na tradição e medicina semítica.

Esse trabalho faz parte de um estudo da medicina chinesa através de suas fontes clássicas, o Livro do Imperador Amarelo considerando esse como uma narrativa mítica, (um documento bruto ou descrição etnográfica realizada por membros de sua própria cultura, como um modelo "feito em casa" nas palavras de Lévi-Strauss), ou melhor, utilizando os recursos da história e antropologia para seu entendimento. Trata-se de um ensaio explorando a possibilidade de comparar suas metáforas e símbolos, em especial a concepção de Chi (Qi - 氣), nas culturas mais próximas à China no ocidente da época em que foi escrito (200 aC.), o período que os historiadores denominam “antiguidade oriental”.

No presente texto que é a parte inicial do projeto de estudo das concepções de energia vital, vida e saúde em aforismos e antigos provérbios médicos, da tradição oriental e ocidental, nos limitaremos aos semitas o grupo linguístico composto por uma família de vários povos, onde se incluem os árabes e hebreus. Integrando a clássica abordagem da etnomedicina que busca identificar as concepções de “doença”, “saúde”, “tratamento”, enfatizando (algumas vezes com interesses escusos da bioprospecção de fármacos) o uso de plantas medicinais. Por se tratar de uma análise de aforismos e provérbios que muitas limitam-se à conselhos e recomendações de normas de comportamentos, nos aproximamos do que atualmente se denomina medicina comportamental ou psicologia da saúde para sua interpretação. Por outro lado sabe-se que é essencial a utilização dos recursos da etno – história para o entendimento dos mesmos e que na medicina comportamental pouco adianta conselhos genéricos, pois os hábitos tem que ser modificados como conquistas individuais, por uma aproximação sucessiva e transformação do comportamento atual.

Considerando que a função do antropólogo é possibilitar o entendimento entre os povos e combater o racismo (intolerância) e, no nosso caso específico entender a relação da narrativa simbólica do Imperador Amarelo com suas metáforas, tomou-se como referência os estudos dos aforismos e provérbios médicos, uma estratégia já utilizada por Hipocrates (460 a.C - 370 a.C) e que permaneceu em uso na medicina pelo menos do século 4 a.C. ao século 17.

O oriente é um modo de ver ocidental de um conjunto de povos da Ásia e Norte da África. Os textos sobre esse tema incluem as civilizações Egípcia, Chinesa, Indiana e dos povos semitas (Caldeus, Assírios, Árabes, Persas e Judeus). Naturalmente que estes povos podem ser subdivididos em centenas de nações, etnias, e sistemas etnomédicos. No presente texto, como referido, tomamos como parâmetro a medicina hebraica antiga como representante dos povos de língua semítica ou camito-semítica, uma família étnica e lingüística, originária da Ásia ocidental.

Contudo, as "lacunas" de informação para integrar o que supomos ser um sistema etnomédico ou seja um conjunto de práticas e crenças para recuperação e manutenção da saúde, foram "preenchidas tomando de empréstimo referências de povos de língua e cultura semelhantes. Considerando que fazem parte de uma mesma família lingüística e habitam uma mesma região é bastante plausível que a medicina hebraica antiga seja similar por sua inter-relação com as crenças e práticas da medicina do Egito e Babilônia (acadianos e assírios - povos dos quais os judeus ou hebreus também foram escravos) assim como dos Árabes pré islâmicos especialmente Persas (Irã), Assírios (Iraque); Fenícios (Líbano) e de alguns dos demais povos da região da mesopotâmia (Sumérios e Acádios).

Consta que o apogeu do conhecimento e expansão dos Hebreus veio com a reunião das tribos de Israel (Rúben; Judá; Levitas, Simeão; Benjamitas; Manasses, Efraim (Jose); Zabulon; Gade; Issacar (Jesurum); Dã; Aser (Gênesis 49; Deuteronômio, 33; Reis 4:1) e demais povos ...desde o Rio (Eufrates) até a terra dos filisteus e até a fronteira do Egito (Reis:5:1) por Salomão após monarquia estabelecida por Saul / David cujo apogeu e dimensão cosmopolita (expansão) correspondem ao reinado de Salomão (966 - 926 aC.).

Hipótese que pode ser avaliada pela extensão da rede de comunicação do império na história dos navegadores da época, especialmente Fenícios, se não quisermos considerar as lendárias referências ao conhecimento desse rei que possuía... ”um coração sábio e inteligente como ninguém, antes e depois dele”... (1 Reis, 3:12)

No próprio texto bíblico há referências às técnicas de navegação da época:

1Reis, 10:22 Com efeito o rei tinha no mar uma frota de Társis com a frota de Hiram e de três em três anos a frota de Társis voltava carregada de ouro, prata, marfim, macacos e pavões.

Segundo nota do tradutor da Bíblia de Jerusalém (École Biblique de Jerusalém) Társis pode ser traduzido como navios de grande porte e é uma possível referência à colônia fenícia de Tartessos na Espanha ou à “fundição” e navios que serviam à exploração de minério. Quanto aos registros da navegação fenícia estudiosos estimam que cobriram vastas distâncias desde as costas do norte da África e todo o sul da Europa, a Itália, a Inglaterra (ilhas do Estanho), as ilhas de Chipre o mar Negro, até o litoral atlântico da África, continente que circunavegaram a serviço do faraó Necau II em 594 aC., chegando até atravessar o oceano Atlântico e vir na América do Sul e Central, há indícios que vieram ao Brasil e que influenciaram as culturas Inca e Asteca. Há quem suponha por análise etimológica que o nome do rio Solimões seja uma derivação nome Salomão.

Os Fenícios já eram influentes por volta do ano 2000 a.C., mas seu poder cresceu com Abibaal (1020 a.C.) e Hirã (aliado de Salomão). Sidon, Biblos e Tiro (Líbano), as três mais importantes cidades fenícias foram sucessivamente capitais de um império comercial de cidades unidas, antes pelos interesses, costumes e religião, do que por uma estrutura política mais rígida de grandes cidades.

Outra evidência do elevado nível de civilização do período salomônico são as referências ao templo construído nesse período e seus construtores maçons (que literalmente significa pedreiros). Esse templo foi destruído pela primeira vez por volta de 536 aC. mas ainda restam suas ruínas – o famoso muro das lamentações, e as referências ao seu arquiteto Hiram Abi(f) (1Reis, 5:15) da tribo Naftali (1Reis, 7:14), seu assassinato e posterior organização da maçonaria nesse período. Segundo alguns autores dando continuidade à vivência de construções nas pirâmides e prédios no Egito, mantida e desenvolvida entre os Hebreus a partir de Moisés.

Observe-se que o empirismo da tecnologia da engenharia de construções, tomado como símbolo da organização (compasso e esquadro) é associado aos princípios éticos e religiosos do culto ao Grande Arquiteto Universal nessa sociedade que sobreviveu até os nosso dias. A influência dessa sociedade no processo histórico da organização social das nações e países é controvertido pelo caráter secreto da organização contudo, na perspectiva da saúde pública (direito à saúde) é notável a presença de seus princípios de “liberdade, igualdade e fraternidade” nas constituições e leis de todo o mundo a partir da revolução francesa.

Plantas medicinais, matéria médica da medicina semítica

Apesar do nosso interesse no presente texto ser a identificação de prescrições comportamentais, dietéticas e relativas aos conceitos de emoções e saúde não é possível isolar estas das demais concepções da arte médica. Em função dessa contextualização reunimos algumas informações relativas à terapêutica que também é inerente a concepção do processo saúde doença, sua reabilitação e manutenção.

Na Bíblia há algumas referências inespecíficas a diversos óleos, gomas e essências. Entre as descrições específicas está a planta indiana Sândalo (inclusive à variedades raras (1Reis 10:12) e a Oliveira, de onde vem o azeite de oliva, a grande fonte das lipoproteínas de alta densidade (High Density Lipoprotein - HDL) responsável por remover colesterol e o transportar seguramente ao fígado. Consta que o rei Salomão falou das plantas desde o cedro (Cedrela ?), que cresce no Líbano até o hissopo (Hyssopus officinalis) que sobe pelas paredes (1Reis, 5:13).

Para se ter uma idéia da farmacopéia utilizada na medicina hebraica podemos recorrer ao exame dos inventários e plantas medicinais dos demais povos semitas, que atingem a ordem de centenas, reafirmando sua dimensão de intercâmbio cosmopolita e padrão cultural dessa região, onde se conquistou o pastoreio, a irrigação, a metalurgia, e até hoje se distingue por sua belicosidade. O inglês R. C. Thompsom, um dos decifradores da escrita cuneiforme identificou 250 plantas no herbário assírio em 1924, entre os resultados de seus estudos de mais de 20 anos sobre dos textos médicos da Assíria (hoje Iraque). (Thorwald)

Entre as plantas medicinais importadas e autóctones da região da Mesopotâmia (região dos rios Tigre e Eufrates) se incluem: (da farmacopéia comum ao Egito) mirra (Commiphora), papoula (Papaver), mandrágora (Mandragora), meimendro (Hyoscyamus niger), salgueiro (Salix), amoreira (Morus), louro (Lauráceas), incenso, açafrão (Crocus sativus), cominho (Cuminum cyminum), zimbro (Juniperus), colcíntida, tamaricácea, loto, junco, alho (Allium) e cebola (Allium cepa) além de substancias de origem mineral (alume, enxofre, betume, argila) e animal (excrementos, órgãos). Entre as não registradas na Mesopotâmia, encontradas apenas no Egito, inclui-se os primeiros registros da beladona (Solanum) para controle da cãibra, secreção de líquidos, espasmos, cólicas, reconhecendo inclusive seu efeito em grandes doses de provocar delírios e perda de consciência; e o conhecido cânhamo indiano (quunabu / Cannabis). Entre plantas não identificadas estão: plátano, buxo buxeiro, choupo do Eufrates, mirábolano e outras. (Thorwald; Ronan) De acordo com Lyons;Petrucelli os agentes terapêuticos eram utilizados por via oral, aplicados em ungüentos e fomentações (fricção na epiderme), introduzidos em supositórios e enemas ou inalados como vapores e fumigações.

Há referências bíblicas, no Eclesiástico - livro atribuído ao escriba Ben Sirac, por volta de 190-180, no estilo das coleções de provérbios, Eclesiastes e Deuteronômio à utilização de símplices – (extratos ?) ingredientes da composição ou o próprio medicamento (segundo o Aurélio do lat. simplices, ‘simples’) a saber:

38:4. Da terra o Senhor criou os símplices, o homem sensato não os menospreza.
38:5 As águas não foram adoçadas com um lenho pra mostrar assim sua virtude? (lenho em botânica refere-se ao principal tecido de sustentação e condução da seiva bruta nos caule)
38:7 Por eles (os símplices) ele curou e aliviou, o farmacêutico fez com eles misturas.

Um detalhe interessante das composições farmacológicas e prescrições da mesopotâmia até hoje observada nos sistemas etnomédicos é a preferência por números mágicos (o “3” e o “7” e seus múltiplos eram os favoritos) para prescrição ou adição de constituintes em suas formulações (Ronan) ainda presente nas conhecidas “garrafadas" de uso na medicina popular brasileira.

Na medicina hebraica, propriamente dita ou na Bíblia não há referências diretas à cirurgias, exceto no se refere ao rito da circuncisão, herdado talvez dos egípcios, além das referências à parteiras sem descrições mais específicas da obstetrícia. (Lyons;Pertucelli). Na perspectiva do conhecimento dos povos semitas, entre os instrumentos cirúrgicos (da Mesopotâmia) encontravam-se agulha de bronze para cirurgia (picada) da catarata (reclinação do cristalino); cateter curvo para tratamento da blenorragia (upu) e um bisturi de dois gumes. Há registros de sangrias, trépano entre os materiais cirúrgicos e a um crânio encontrado com sinais de recuperação pós-trepanação na região da Judéia, referências à amputação com serras, e ajuste de fraturas com recuperação. (Thorwald; Lyons;Petrucelli)

No espectro das patologias identificam-se vários “demônios” causadores de doenças para exorcismos e registros escritos do tratamento específicos de doenças identificadas como: Gastrite; Oclusão intestinal; Distúrbios biliares, Apoplexia; Otite; Blenorragia; Afecções renais e da bexiga. Nergal o deus mesopotâmico das epidemias ou Baal-Seub o deus mosca filisteu/fenício eram representados por um inseto semelhante à mosca, já reconhecida como praga junto com os mosquitos. Há registro da associação entre epidemias de peste bubônica e a mortandade de ratos. (Thorwald)

De acordo com Lyons/ Petrucelli havia diferenças importantes entre as concepções hebraicas e assírias (assim como entre qualquer outros grupos semitas, naturalmente) embora ambos supusessem uma causa sobrenatural. Os judeus de antes das concepções medievais da Cabala, Jeová (YHWH - יהוה), o próprio Deus era o único possuidor e doador da saúde e somente ele deveria ser aplacado ou invocado para sua recuperação. Essa concepção aproxima os hebreus da medicina chinesa e grega que antes de buscar a identificação de entidades patológicas procura a explicação no equilíbrio das forças da natureza, a sintonia com a harmonia da energia universal (Tao - 道) expressa ou manifesta no comportamento humano. Observe-se que inclusive nos textos médicos do Talmude há referências diretas às teorias gregas que atribuíam as enfermidades ao desequilíbrio dos quatro humores.

Ainda segundo os citados autores, o contágio das doenças não era explicado como resultado da transferência dos espíritos malignos do indivíduo enfermo para o indivíduo são, mas como um sinal da impureza espiritual. Segundo eles as normas de higiênicas eram seguidas mais por razões de disciplina e religião do que por motivos médicos, identificaram normas extensivas a todas as atividades: isolamento do enfermo; tempo e lugar do sepultamento; freqüência das relações sexuais; o ato de lavar-se antes das refeições, banhos após o coito e menstruação, sacrifício de animais e preparação de alimentos. Entre os Árabes mesmo pós islamismo, como pode ser lido no Alcorão, são também comuns as recomendações de banhos com água ou com terra limpa (tayamum) antes das orações ou nas condições de impureza.

Sabe-se entretanto que são difusos os limites de conservação e recuperação da saúde e religiosas nos sistemas etnomédicos. Um dos termos equivalentes à médico na Babilônia é Asu – ‘aquele que conhece a água” a quem cabe os tratamentos medicamentosos e cirúrgicos relativamente distinto do adivinho e exorcista (baru e ashipu). Entre os hebreus o médico profissional – Rhophe (רופא) eram escolhidos entre os pertencentes a tribo sacerdotal dos Levitas. (Thorwald, Lyons; Petrucelli)



Visões do Rei Salomão - Ari Roussimoff

Provérbios do Rei Salomão

Amor próprio (auto-cuidado)

Até quando os ingênuos amarão a ingenuidade, os insensatos desejarão as coisas que lhes são nocivas e os imprudentes vão ignorar a ciência. 1:22

Não sejas sábio a seus próprios olhos, teme afastar-se de Iahweh e livre-se do mal; Isto será saúde para teu umbigo (carne) e refrescante (refrigério) para teus ossos. 3:7; 3:8

Deixai a infância (ingenuidade) e andai pelos caminhos da prudência (inteligência). 9:6

A sabedoria aumentará o número dos teus dias e acrescidos serão novos anos a sua vida. 9:11

O homem misericordioso faz bem a si mesmo, o homem cruel destrói sua própria carne. 11:17

Há quem tenha a língua como espada, mas a língua dos sábios cura. ou Quem fala o que não sabe (ao acaso) fere como uma espada, mas as palavras dos sábios trazem saúde. 12:18

Não existe riqueza que valha mais que um corpo sadio, nem maior satisfação do que a alegria do coração. Eclesiástico, 30:16

Amor conjugal

Encontrar uma mulher é encontrar a felicidade, é obter um favor de Iahweh. 18:22

Melhor é morar no canto de um teto do que junto com uma mulher briguenta (queixosa) 21:9

Feliz do marido que tem uma mulher excelente, o número de seus dias será dobrado. Eclesiástico, 26:1

Mas a mulher ciumenta causa ao coração sofrimento e aflição e o flagelo da língua é tudo isso acumulado. Eclesiástico, 26:6

Os filhos dos filhos são a coroa dos velhos e a glória (honra) dos filhos são seus pais 17:6(2)

Raiva

A resposta branda quebra a ira, a palavra dura abrasa a raiva 15:1

Mais vale um homem lento para ira do que um herói, e um homem senhor de si do que um conquistador de uma cidade. 16:32

Um homem sábio sabe domar sua cólera e sua honra consiste em passar por cima de uma ofensa 19:11

O insensato desafoga toda sua ira mas o sábio a domina e transforma 29:3

O homem sobre o qual pesa o sangue de outro fugira até o fosso, nada (ninguém) o detém. ou Um homem culpado de assassínio fugirá até o túmulo: não o segurem! 28:17

Alegria

Coração alegre, face serena, o coração aflito abate o espírito. ou O coração alegre faz a face serena e a tristeza na alma (o coração ferido) abate o espírito 15:13

O olhar bondoso alegra o coração, a boa reputação reanima forças (mantém o corpo). 15:30

As palavras amáveis são um favo de mel, doces para o paladar (garganta) e força para os ossos (saudáveis para o corpo). 16:24

Melhor sofrimento que riso. Pois em rosto amargo há coração largo. (Eclesiastes, 7:3)

Preocupação

A insônia por causa da riqueza consome a carne, a sua preocupação afugenta o sono. Eclesiástico, 31:1

As preocupações do dia a dia não deixam dormir e mais do que uma doença grave tiram o sono. Eclesiástico, 31:2

O homem propõe e deus dispõe. ou Ao homem os projetos do coração, de Iahweh a resposta na língua. 16:1

Melancolia / desânimo

Coração alegre, corpo contente; espírito abatido ossos secos. 17:22

O espírito do homem pode aguentar a doença, mas o espírito abatido quem o levantará? 18:4

A beleza dos jovens é o seu vigor e o enfeite dos velhos, suas cãs (cabelos brancos) 20:29

Melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa onde a festa. Eis que esse é o fim de toda gente. E o vivente que o tenha presente no coração. Eclesiastes, 7:2.

Coração de sábio do casa do luto e coração de estulto na casa do prazer. Eclesiastes, 7:4.

Não ames o sono, porque ficarás pobre, fica de olhos abertos e te saciarás de pão. 20:12

Anda, preguiçoso, olha a formiga, observa o seu proceder, e torna-te sábio 7 sem ter um chefe, nem um guia, nem um dirigente, no verão acumula o grão e reúne provisões durante a colheita. Eclesiastico 6:6

Ansiedade / medo

O justo escapa da angústia, o ímpio ocupa o seu lugar. 11:8

A angustia do coração deprime, uma boa palavra reanima. 12:22

A habilidade é a coroa dos sábios a loucura dos imprudentes. 14:24

O leão está sem terror, o errado foge sem que ninguém o persiga. 28:1

Nobre coroa são os cabelos brancos (cãs), elas são encontradas no caminho da justiça. 16 :31

A sanguessuga tem duas "filhas": Traz, Traz! Três coisas são insaciáveis e uma quarta jamais diz basta. 30:15

_______________________________

Nota: a divisão dos provérbios referentes à emoções em: Raiva (怒 nù); Alegria (喜 xǐ ); Preocupação (ficar pensativo 想 - si); Melancolia/ tristeza (melancolia / mágoa 悲 bēi); Ansiedade (忧 yōu) / Medo (恐 kǒng), corresponde à classificação chinesa dos 5 elementos e cinco emoções/sentimentos que lhes correspondem nas cinco estações do ano. [ ver: O movimento das cinco estações ]


PROVÉRBIOS E AFORISMOS RELATIVOS À NUTRIÇÃO / ALIMENTAÇÃO

O justo come e se farta, o ventre dos ímpios passa fome. 13:25

A fome do operário trabalha para ele, porque sua boca o estimula. 16:26

Encontraste mel? come o suficiente para que não fiques enjoado e o vomites. 25:16

Garganta saciada despreza o favo de mel, garganta faminta acha doce todo amargo. 27:7 dito popular derivado: O melhor tempero é a fome.

Mais vale um pouco de legumes oferecido com amor do que um boi cevado, com ódio. 15:17 versão nordestina de cantador: Mais vale uma xícara de café com amor do que um prato completo de má vontade.

Melhor um naco de pão seco com tranqüilidade que uma casa cheia de carnes de sacrifício com discórdia. 17:1

Não sejas ávido de toda a delícia, nem te precipite sobre iguarias, porque na alimentação demasiada está a doença e a intemperança provoca cólicas. Eclesiastico, 37:29


Do Alcorão

3. Estão-vos vedados: a carniça, o sangue, a carne de suíno e tudo o que tenha sido sacrificado com a invocação de outro nome que não seja o de Deus; os animais estrangulados, os vitimados a golpes, os mortos por causa de uma queda, ou chifrados, os abatidos por feras, salvo se conseguirdes sacrificá-los ritualmente; o (animal) que tenha sido sacrificado nos altares. Também vos está vedado fazer adivinhações com setas, porque isso é uma profanação. Hoje, os incrédulos desesperam por fazer-vos renunciar à vossa religião. Não os temais, pois, e temei a Mim! Hoje, completei a religião para vós; tenho-vos agraciado generosamente sem intenção de pecar, se vir compelido a (alimentar-se do vedado), saiba que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.

4. Consultar-te-ão sobre o que lhes foi permitido; dize-lhes: Foram-vos permitidas todas as coisas sadias, bem como tudo o que as aves de rapina, os cães por vós adestrados, conforme Deus ensinou, caçarem para vós. Comei do que eles tivessem apanhado para vós e sobre isso invocai Deus, e temei-O, porque Deus é destro em ajustar contas.


Para concluir

Nesse artigo, alguns conceitos são necessários para entender o mundo de alegorias ao qual fomos remetidos como um determinado espaço entre mito (aqui considerado uma narrativa) e a técnica, enquanto duas dimensões do processo cognitivo. Sendo o primeiro relacionado ao processo criativo (intuição) e metáforas explicativas e o segundo à acumulação da experiência empírica.

A interpretação que poderá resultar da comparação de provérbios de diferentes culturas reunidos pelo nexo de pertencer ao que se pode denominar como sistemas etnomédicos, ainda está por ser realizada. No momento o objetivo é compreender o provérbio enquanto uma prescrição comportamental análoga aos conselhos dos psicólogos da saúde ou medicina comportamental e nesse sentido o provérbio, por assim pertencer a essa categoria narrativa "provérbio" (do lat. proverbiu - máxima ou sentença de caráter prático e popular), deveria ser , e alguns o são, suficientemente claros em um determinado sentido, que no caso é a preservação e/ou recuperação da saúde, pelo que consistiu a tarefa dessa seleção.

Notável também é a semelhança com as “prescrições comportamentais” que fazem parte do conjuntos de textos hipocráticos, do Livro do Imperador Amarelo e dos aforismos médicos da idade média - renascença européia, que serão apresentados posteriormente. Tal semelhança é devida possivelmente por analogias na estrutura conceitual referente à energia vital e elementos – símbolos explicativos da fisiologia ou relação entre a energia vital e o corpo embora na medicina hebraica os avanços da anatomia e fisiologia vieram posteriormente, e por assimilação(?) (ver Talmude) da medicina grega onde as referência à órgãos e doenças são explícitos. A plena concordância sem dúvida é a relação entre o processo saúde – doença e o estilo de vida, conduta ética e emoções.

Contradições internas podem ainda ser devidas à tradução e ou adaptação da cultura oral à escrita, sobretudo nas referências ao Rei Salomão, já que, como reconhecido na Bíblia, não foram escritos por ele, mas o tomaram como referência. Quanto ao corpus hipocrático há também contestações de autoria quanto a alguns textos como veremos.


Bibliografia

Bíblia de Jerusalém (tradução Ecole Biblique de Jérusalem 1973) Giraudo, T. (coord. Ed.) SP, Paulinas, 1985

Couto, Sérgio P. Maçonaria para não – iniciados. SP, Universo dos Livros, 2007

Canella, Lidice. As viagens do Rei Salomão. João Pessoa, PB, Pindorama, 2009

Challita, Mansur. Oriente Médio, esse desconhecido. RJ, Revan, 1990

Faria, Emerson Luiz de. Os Fenícios ->http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/Grecia/Fenicia.html, 1999/2004
...Historia: docs: Herodoto ->http://www.mgar.net/var/herodoto.htm

Lévi-Strauss, C. Raça e História; Descontinuidades culturais e o desenvolvimento econômico, in Antropologia estrutural dois, RJ, Tempo Brasileiro, 1993

Lisboa, Luiz C. ; Andrade, Roberto P.Grandes Enigmas da Humanidade. RJ, Editora Vozes apud: ...Fenícios no Brasil ->http://www.acasicos.com.br/html/fencios.htm

Luz, Madel T. Estudo comparativo das medicinas ocidental contemporânea, homeopática, tradicional chinesa e ayurvédica em programas públicos de saúde. RJ, UERJ, IMS, 1996

Luz, Madel T. Natural, Racional, Social ; Razão Médica e Racionalidade Científica Moderna, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1988

Lyons A. S.;Petrucelli, J. História da medicina. SP, Manole, 1997

Mackey, Albert G, Os princípios das leis maçônicas. (2V). SP, Universo dos Livros, 2009

Maomé [Alcorão]"AL-FÁTIHA". Ed. Paz no mundo

Posadas, J. A medicina natural na Grécia clássica, Ascépio, a concepção de medicina dos gregos, as enfermidades e o socialismo. SP, Ed. Ciência Cultura e Política, 1983

Ribeiro, Darcy. O processo civilizatório. RJ, Civilização Brasileira, 1975

Ronan, Colin A. História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge (4 V) vol I: Das origens à Grécia; vol II: Oriente, Roma e idade média. RJ, Zahar, 1987

Svoboda, R; Lade, A. Tao e Dharma, medicina chinesa e ayurveda. SP, Pensamento, 1998

Thorwald, Jürgen. O segredo dos médicos antigos. SP, Melhoramentos, 1990

Wolfgang Mieder. DE PROVERBIO. Electronic Journal of International Proverb Studies VOLUME 1 - Number 1 – 1995. URL: http://info.utas.edu.au/docs/flonta/