domingo, 27 de setembro de 2009

Medicina comportamental

Essencialmente é o estudo dos "bons hábitos" e/ou uma crítica a noção etnocêntrica da civilização a partir do estudo racional (com metodologia científica) dos costumes relacionados à saúde e longevidade.

Inaugura-se como uma vertente da medicina psicossomática, onde é possível estabelecer, como marco de origem, a fundação da American Psychosomatic Society em 1942, tendo diversos antecedentes históricos - conceituais, entre os quais, a proposição do método psicossomático em medicina e pesquisa sistemática, realizada por Franz Alexander (1891-1964) e equipe do Instituto Psicanalítico de Chicago (1932), sobre o adoecimento, padrões de conflito e tipos de personalidade utilizando a concepção psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939) e, especialmente os estudos sobre a hipnose e sobre a conversão histérica nas contribuições pré - psicanalíticas de Jean-Martin Charcot (1825-1893) e Josef Breuer (1842-1925). (Alexander e Selesnick, 1968)

O Medicine Net Inc conceitua a medicina comportamental como um campo interdisciplinar de pesquisa e prática da forma com que os pensamentos e comportamentos das pessoas afetam sua saúde. Um exemplo típico de comportamentos indesejáveis é o abuso de drogas. A medicina comportamental, segundo tal instituição, utiliza técnicas de terapia de comportamento, tais como biofeedback, treinamento de relaxamento e a “antiga” hipnose.

Teoria da aprendizagem autônoma / medicina comportamental

Por medicina comportamental, então, pode se compreender a aplicação dos princípios da teoria da aprendizagem e terapia do comportamento à manutenção e recuperação da saúde, distinguindo-se do que tradicionalmente tem se denominado de educação para saúde por utilizar tais estratégias numa proposição individual e clínica.

Observe-se que as teorias da aprendizagem envolvem pelo menos 2 grandes teorias o Behavorismo americano ou teoria comportamental, cujos principais teóricos são John B. Watson (1878-1958) e B. F. Skinner (1904-1990) e a Reflexologia de origem russa, nas teorias do condicionamento de Ivan P. Pavlov (1849 - 1936) com suas (inter) repercussões na Neuropsicologia e Psiquiatria sobretudo aplicada à Medicina Psicossomática.

A aprendizagem ou lei do efeito como já foi definida é a modificação de um comportamento, hábito ou ato do organismo em consequência sua atividade que não pode ser explicada por maturação, fadiga ou estados temporários tais como efeito de drogas, ou patologias orgânicas.



O enunciado de que "um ato pode ser alterado em sua força pelas suas conseqüências" foi elaborado por Edward Lee Thorndike (1874-1949) no final do sec. XIX quando estudava com animais presos em armadilhas, analisando suas estratégias de fuga, bem como observando os efeitos que a dor e o prazer produzem sob as formas de recompensa e punição.

O conhecimento das relações entre dor e prazer sobre a aprendizagem não são uma descoberta privilegiada da psicologia, pois acompanha os domadores de animais e "educadores" a milênios, sem dúvida, desde a pré história. A novidade do nosso século foi aperfeiçoar essa aplicação, formular leis (generalizações) identificar edições como no diagrama acima referido, e, sobretudo em nosso caso elaborar estratégias, prescrições comportamentais, objetivos comportamentalmente úteis. No momento presente alia-se ao propósito de adquirir e manter hábitos que promovam e mantenham a saúde.

O princípio básico do auto-controle apresentado por Skiner (1953), pode ser enunciadao como: "um comportamento só pode ser controlado por uma modificação no estímulo que o elicia ou pela emissão de uma resposta alternativa (resposta controladora)".

O objetivo da medicina comportamental é a aprendizagem e modificação de hábitos humanos para obtenção e manutenção da saúde. Para isso conta com o desenvolvimento de um sistema de avaliação e observação dos hábitos individuais (testes), identificando suas contingências determinantes, visando elaborar uma prescrição comportamental capaz de controlar e modificar comportamentos considerados prejudiciais, por sua alta ou baixa frequência (excesso ou falta comportamental, com nos propõe Creer), o que pode ser melhor compreendido estudando situações concretas. A saber:

Excessos comportamentais

- Alcoolismo

- Obesidade

- Tabagismo

- Controle do Sal e Açucar

- Satiríase / Ninfomania


Faltas / ausências de comportamentos necessários e/ou essenciais

- Sedentarismo

- Inibição sexual

- Depressão

Observe-se que na terapia comportamental (ou analítico-comportamental) não parte do pressuposto de que a doença ou transtorno é uma conseqüência de uma patologia subjacente para a qual deve se buscar uma terapêutica específica, cirúrgica ou farmacológica, como no modelo médico ou mesmo nesta concepção transposta à psicologia clínica (via psiquiatria) onde permanece a dicotomia normal x patológico, embora buscando uma estrutura psíquica doente, uma personalidade desviante e mesmo um sistema de crenças irracionais, agentes etiológicos ou fatores que merecem ser corrigidos (com ou sem a utilização de psicofármacos). Banaco (et. al. 2010) em sua revisão sobre como os terapeutas analítico-comportamentais utilizam o DSM e discutem a psicopatologia assinala que:

...uma abordagem funcional não faz conjecturas a respeito de etiologia ... pelo contrário, ela busca identificar sob quais circunstâncias um comportamento denominado como psicopatológico pode ser originado, provocado e mantido...

Sheldon J. Lachman (1921-1997) em seu clássico “Distúrbios psicossomáticos, uma abordagem behaviorista” (1972) realizou um revisão da então denominada medicina psicossomática classificando as diversas teorias em três grupos 1) teorias de perfil de personalidade; 2) teorias de padrões de ração emocional; 3) teorias da estimulação emocional geral e da vulnerabilidade geneticamente determinada de um órgão; e nos apresentou um novo conjunto de perspectivas teóricas, baseada nos princípios fundamentadas em fatos observáveis e hipóteses objetivamente testáveis, que denominou por teoria da aprendizagem autônoma relacionadas mais de perto com a terceira categoria das teorias indicadas sem necessariamente excluir as demais.

A essência da teoria proposta é que as manifestações psicossomáticas resultam de reações implícitas freqüentes, ou prolongadas, ou intensificadas, induzidas através da estimulação de receptores – enfatizando o papel da aprendizagem no desenvolvimento das “aberrações psicossomáticas (como dito, sem minimizar o papel dos fatores genéticos ou predisponentes - oc. p.59) Destaque-se os mecanismos da aprendizagem por substituição de estímulos e/ou generalização e contingências de recompensa, onde as respostas autônomas (e emocionais) são seletivamente aprendidas. (o.c. p.63)

Esta é a função do analista de comportamentos no tratamento dos distúrbios psicossomáticos: identificar as possíveis associações de estímulo eliciadores (inclusive simbólicos ou verbais, Sheldon o.c. p. 63); as contingências que os originaram e os mantém propondo novas formas de autocontrole e aprendizado na lida com tais estímulos e circunstâncias.


Referências

ALEXANDER, Franz G; SELESNICK, Sheldon T. História da psiquiatria: uma avaliação do pensamento e da prática psiquiátrica desde os tempos primitivos até o presente. São Paulo : Ibrasa, 1968.

CREER, Thomas L. Terapia da asma. Método terapêutico comportamental (Behaviorista) de cuidados à saúde em perturbações respiratórias. SP: Andrei, 1984

BANACO, Roberto A.; ZAMIGNANI, Denis R.; MEYER, Sônia B. Função do comportamento e do DSM: Terapeutas analítico-comportamentais discutem a psicopatologia (p.175-191) in: TOURINHO, Emanuel Z. LUNA, Sérgio V. L. (org.) Análise do comportamento, investigações históricas, conceituais e aplicadas. SP: Roca, 2010

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. SP: Martins Fontes (1953), 1981.

LACHMAN, Sheldon J. Distúrbios psicossomáticos, uma abordagem behaviorista (1972). RJ: Livros Técnicos e Científicos, 1974


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